• No results found

DO ALGODÁO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "DO ALGODÁO"

Copied!
18
0
0

Bezig met laden.... (Bekijk nu de volledige tekst)

Hele tekst

(1)

' .

",

(2)

CU LT U R A

DO ALGODÁO

EM ANGOLA

LISI WA

LUPUENSA NACIQNAL

1 86 1

(3)

#

.'

(4)

CULTURA DO ALGODÄO

EM ANGOLA

Dl.mo c cx.1DO sr.-Tendo·mc sido dirigidoB n'estcs ultimos tempos, mórmente da parte de Inglaterra, varios pedidos de esel.recimclltos Bobre a capacid.de daB terras de Angola pam a cultura de .Igodào, e sobre " aequisiçao de terre-

DOS C braços para 0 dito grangeio, respondi a. estcs qucsi- tos conforme a minha longa estadn. n'aquella provincia. 0

as tentativas praticas, ás quaes tive occasiào de assistil', me nconselhavam; c como DO desenvolvimento das minhas respostas DitO pude deixBr de mcncionnl' varias medidns administrativas que 0 soUcito governo de sua m"geBt.~de tomau 0 ainda esU\. para tomar, a :firn de promover eflicl\Z- meute 0 cultivo d'este genero, cada dia mais valioso, de Cllltur" eolonial, julguei do meu dever passar hoje ás mttos de v. cx.& a copia de nma carta minha, que, cm consequcll- cia de urn novo pedido, dirigi no iJL"" sr. 'vVo I. Howorth, negoeiante d'esta praça.

Deus guarde a v. ex.' Lisboa, em 5 de outubro de 186l.

_lU.mo e ex.mo Sl'. ministro e secretario d'estado dos ne- goeio. dIL marinha e ultramar. = D,·. Frederiro lVelwitselt, enearregado da exploraçao pbytographica d" provincia de Angola.

(5)

Copiao-lil.mo sro-Tive a homoa de roccber CL carta de v. 8.3, cm quo me pal'ticipa Rebar-se um amigo seu pre- sentementc cm Livcrpool, onde deseja t'eceber as necessa- rins informaç5e, sobro a prop,oied.de do territorio de An- gola para a cultUlo" de algodao em grande ese.la, e bem assim algum.s indie.çoes em respeito á acquisiçao e eusto de opel'arios, c á. convenicncia de nhi estabeleeer feitorias para a compra de algodao, pedindo-me alem d'isso de acres- centar quaesquer outros esclarecimentos, quo cu juigar pro- veitosos a. capitalistas quo desejam fundar tlma companhia de exploraçäo gossypina na provincia de Angolao

Aindaque já tive opportuna oeeasiao de expor a Vo So' de viva voz as minhns observaçöes sobre cste importante assumpto, aceito COJU 0 mmor gosto este novo convitc, com- municando-lhe agora 0 quo julgo mais necessario para com- pletnr as informaçöes que se ncham llUblieadas, ha tres annos, sobre est.~ mesma questao, no boletim official do go- vcrDO de Angola t, crn resposta a uma serie de pcrguntM, quo entào me foram diloigidns, em no me do governo bri- t..1.nnico, por urn membro da commissào mixta cm Loandao I Em respeito á proprieda~o e aptidtto do solo tropieo- africano para a cultUloa de algodao, tenho que lembrnr, que esm questiio já se acba decidida affirmativamente, ha mais de meio seeulo, pelo facto de uao ha,'er cm toda" provin- cia de Angola urn unico djstricto em que os incligenas dcixassem de cultivar maior ou menor porçäo de algodao, ora sómente para uso domestico, ora. tambem para com- mercio; pois j:\ desde longo tempo se aeha estabeleeida, em Calunguembo, povoaÇl'o cerca de 70 mill, .. de distaneia da costa, no caminbo para 0 Golungo Alto, llllla feira ou mer- eado perioruco, oude concorrem com maior ou menor fre- queneia os indigenas dos distrietos de Ambaca, Cazengo, Crunbambo, Massangano, etco, com seus algodoes fiados ou cm rama, e ató com varios tocidos gossypinos fabricados por clles; e alguns d'estes fabricados, como por cxcmplo, redes do tipoia, eolehas qu tangas, silo muito proemoados na provincia, mesmo pelos habitrmtes brancos, mórmente , Boletim ojJic,'al cio rlOvcrno geral cIa provincia cie Angola, n .... ü!)4 e 695 de janeiro de 1859.

(6)

5

por cnusn. du Bua grande elasticidade e longa dura, propric- dades que evidentemente attestam a boa qualidade da ma- tOl'ia prima de qua eäo feitos.

rrambem os coloDos curopcus de Angola nunea 80 dcs- euidaram de todo da cultura do nlgodào, e é notorio que, 110 decurso dlestes ultimos dez aon05, varios proprietarios de terrenos se têem dcdicado n. esta cultura, com resulta- dos bastante satisfactorios, de maneh'a qua nos anDOS pl'O-

ximos passados j:t foram exportados para Lisboa alguns mi- Ihares de anobas de algodao angolensc, euja excellente quolidado foi gemlmente reconheeida por varios e bem competentes fabricantes om Portugal, Frnnça e lnglaterra, A estcs dados, já de pel' si as",is concludentes cm rcla- çào á notavel eapaeidade das terras de Angola para a pro- dueç.ào de algodao, ainda se póde oCl'Cscenta,', que !\ cul- tum e applicaçào d'estes preciosos filamentos, j,\ desde ,'Cmotos tempos era eonbecida dos indigenas da Africa aus- tro-tropicnl, 0 que julgo poder corroborar pel os factos se- guintes: cm primciro logar obscrvo, quo 0 algodäo tem a Bua designaçào particular na lingua bunda ou angolense, pois os indigenas chamam-no muginlta.J c estn. denominaçîto- j:.\ a cncontraram os primeiros missionnrios que pene tra- rnm, ha mais de urn seculo, n'aqucllps sertaes, entûo aiuda nao visitndos por nenhum estrangeiro j em segundo logat°

devo notal', que 0 algodiio é applicado pelos imligenas, nuo sómentc para flos e tecidos, mas sim tambem como reme- dio tonico, mÓl'mento nas ccphalalgias, ,ob fÓl'lna de fumi- gaçöos, 0 este modo de applicaçao de OCl'to nao Ihos roi COIll- lllunicado pelos colonos ou viajantcs cstrangeÏl°os, mas ncha- oe fundnda nas tradiçoes mas antigas de differentes tribus entl'o elles,

o

que poróm mais quo tudo connrma" consider"vcl .n- tiguidade da cultw'a e .pplicaçao do aJgodào ont"o os indi- genas austro-africnnos, é 0 modo coma clles ainda hojo 0

fiam c tecem, 0 qual cm tudo é exactamente idcntico no mothodo algum dia elll uso entre os "nligos egypcios, con- ronno isso se encontra. reprcsentado cm vurios monumen- tos quo nos deixou este enruo t..l0 industrioso povo.

II Sc os factos que acabo do apontar, nttostam a gran- do antiguidade

,1"

oullura 0 applieaçào gossypin:L entre os

(7)

G

aborigenes da AÛ'ica portngneza, näo fallam ontros, nilo menos concludentes, para comprovar a completa idoncidade e aptidäo das referidas terras pam as cultnras em qnestito.

Já meneionei as excellentes qualidades de varios tecidos fabricados pel os indigenas do algodito cultivado por cllcs; mas esta cultw"a do geutio notoriamcnte só consiste cm se- mear e colher; pois asemante é lançada na terra Bcm ob·

servancia ncnhuma de preceitos agricolas, ficando uuicamen·

te entregue á fertilidade do solo e á bonança do clima; e quando os algodoeiros principiam a enfeitar-sc com seus densos pcnnachos de alvissimo algodäo, é que volla outra vez 0 preto " co!heila, a qual, apesar do abandono em que sc desenvolveram as plan tas, quasi sempre se mostra abun- dante. Quanto mnior nilo seria a producçiio, quanto mnis valioso nito deveria torn ar-se 0 producto, se as respectivas plantaçöes fossem creadas e tratadas com a arte e com os cuidados, que costnmam prodigalisnr-Ihcs cm outros paizes,

na~ terra" actualmente repuladas classicas da ClLltura gos- sypina? J

De CCl·to a producçäo scria abundantissima, e a quali- dade do producto havia de aperfeiçoar-se cada vcz mais com o esmero dos cultivadores. E nilo seroi difficil dcmonstrar que isso cm parte já presentemente sc eshl renlisando cm Angola, poisque as plantaç3es modernas de algodao ence- tadas, tanto na costa como DO intcriol' dll. provincia, por co- lonos europeus e por alguns propriot"rios indigenas, acham- se espalhaclas em quasi todos os districtos ao longo da costa e no sertllo, desde 0 Ambriz ató Cabo Negro, e desde Go- longo Alto e Cazengo até Bumbo, e em todos estes loga- res, !no differentes entre si rehtivamente á indole e com- posiçäo das terras, !no variados em relaçäo á sua exposiçao a eleva.çäo sobra 0 nivel do mar, a näo menos em respeito á sua collocaç1(o geographica, cm todos elles, repito, as phnlaç3cs de algodäo estäo dando esperançosos resultados, tanto mais satisfactorios, por se nchnl'cm mwtos dos la.vra- dores moela sem a necessurÎa pratica nIeste genero da cul- turn, e som as competentes machinas e ferramentas, para abreviar 0 trabalho e aperfciçoar 0 producto.

Pouco importa nIeste caso a circurustancia de mwtas d'eslas plantnç3es ninda nito tercm grande extensäo; pois

(8)

)

7

para se formar um jruzo sobre a possibilidade e eonvcnien- cia do. eultura. de qualquer genero, nao sllo preeisos cente- nares de hectares d'ella, mórmente quando as tentativas encetadas em differentes solos e em diversas exposiç5es offereeem os mesrnos satisfaetorios resultados. Verdade é que certas eondiç5~ do solo e subsolo, e certas exposiç5es o clevaçöes do ter1'eno, se mostram maïs favoraveis ao des- envolvimento, 01'0. de uma ora de outra especie de algo- doeiros ; mns isso mesmo ninguem estl'anhará, por ser gCl'al- mente sabido qua nao existe Dem uma unica especie entre tantos generos eultivados na Europa, que nao manifestassc certn tendencia e predileeçäo para uma ou outr" qualidade de ten'cno; mns ainda a este respeito dovo observar que, enlre todos os generos de cultura recentemente introduzi- dos ou desde mais tempo existentes cm Ango1a, reconheci no algodoeil'o um d'aquelles que menos dependem da eon- diç.äo do solo e do. elevaçao dos terrenos, pois tanto nas campinas n.renosas e de alluvillo da regiäo litoral, e nas terras argilosas e ma.rnentas da. regiilo collina, como no solo pingue das varzeas e matas derrubadas, e nao menos nas encostas d .. regiilo elevada 1 eobertas de deeomposi- ç5es, jA de granito ou gneiss, jll. de mica-sehisto, de tmpp, ou de Bcllisto arcnacco, encontrei os algodoeiros desen- volvidos quasi eom a mesma força de vegetaçao e eom igtlal prodigalidade de fruetiJieaçäo, uma vez que os terre- nos l'espeetivos nao eram destituidos de toda a fresquidiIo, convenientemente preparados, e urn tanto nbrigados dos ventos reinantes dn. estaçào inver·lwsaJ a qual na Afric.. ....

aust"o-tropical, e por conseguinte tambem cm Angola, nlo é a epocha das chuvasJ como erroneamente mwtos acredi- tam, maa sim a estaçäo mais secca de todo 0 anno.

, Sobrc csta. regUio elt1;ada, eujns cxtensas plnnuras, suleadas de Tios poderosos c de urn sem numero de ribeiras fertilisantcs, c nito monos distinetas por alla. riqueza ctn gneloe, cera., mnr6m e muito8 ou- tros produCt08 coloninca, constituem 0 tereeiro tcrraço dIL confonna~ito orographica do continente africano, c scrito, sern duvida, jA. no pro- ximo futuro 0 berço dl). colouisaçäo do va.sto inrerior cl'cste continen- te, tive occa.siào de indicar nJgumos fciçöcs caracteristicas nOBIllCUS Apontamento. lJhytogeographiro. soore a Flora de An9ola, pubLicad08 1108 .Ännae. do con.t1Jw uUramarblo, D.O 55, de dezcmbro de 1858.

(9)

8

Estas expel'iencias compl'ovativas da singular idoneidadc do solo angoleuse para culturas gossypinas, nüo se HulÎtrun s6menle ás cspecies de algodào até agora mais geralmente cultivadas cm Angola, como por cxcmplo: 0 gossypimn vitifolium e 0 g08sypium, punctatum, mas estcndc-se igual- meute á.s varicdndes nru recentemcnte introduzidas de VQ.- rioa 1'oot08 dos Estados Unidos ; pois as sementeiras de algodiio de Luiziana (chamada Buena Vista), feitas com se- mentes amcl'icanus, de cuja distribuiçao 0 governo de Sua Magestade me cncarregou, quando viajei nos distl'ictos de Golungo Alto, eazengo e Ambac.~, deram, para a grande salisfaçRo dos lavradores d'aquelles districtos, logo no pri- mairo anno, os mais animadOl'es resultados, como jsso consta das amosIras de bello algodilo luiziano que remetti do dislrieto de Golungo Alto ao conselho ullramarino em selembro de 1856. E quando eu, tres annos depois, per- cOl'ri os distl'Îctos do sul cl .... provincia, tive opportuun oc- casiilo de visitnr por vezcs l'epetidas os esperançosos algo.

doaes do SI'. Ikrnardino Fr.ire de Figueiredo, cm Mossa.- medes, os quaes jA n'aquelle tempo occupavam nma area de perto de 80 hectares, e pudc couvencm--me que todas as especies e variedades de algodao que este habil cultiva- dol', mórmente dw'ante a. energica administrnçào do ex·

governador 0 Sl'o major Lea1, ahi conseguiu reunir do Brazil, do Egyplo, dos Estados Unidos e ouh'os paizes, se achavam DO mais prospero desenvolvimento, p1"ovando assim que 0 territorio angolense llrlO só se lllostl'a favol'avel a uIDa ou outra especie de algodüo, mas que a fecnndidadc c aptidào d'este solo para a cullm-a gossypina se refere a quasi todas as especies c variedades de algodiio ach",l- mente cultivndas nos diffcl'entes paizes dos tres grandes continentes, e procm'adas nos mercados da Europa.

Como outra. consideravel vantagem que offerece 0 terri- torio angoleu!lc aos lavradores de algodao, dcve ser lem- brado que uhi os algodoaes, na. muior parte dos sitios, nào precisam de irrigaçaes artificiaes, circumstancia qne sim- plific..1. e to1'03o muito mais economico 0 gl'angeio d'elles;

n'nquella zona equinocial acham-se as estaçöcs do anno de tal modo distribuidas que as chuvas da primavera, conti- nuadas ou por vezes intcrl'ompidas, nté 0 outono, provo-

(10)

\

(

"

o

cam e promovem poderosamente a vegetaçao (0 desenvol- vimento) dos algodoeiros, emquanto a Bubsequento estaç.ïo secel\. do inverno sc torna mui propria e favoravcl ti fructi- ficaçào e colheita dos algodöes; e eflcctivamento encontrei, durante as minhas digressoes em Angola, nao pOlIcaS plan- taçoes de algodao cm pcquena e cm maior escala, tanto no interior da provincia como nos wstrictos de Loanda e de Mossnmcdes, quo sem terem jamais recebido roga artificial, todavin. se achavam na maïs flol'escentc estado, resultado cste trmto maie para. admirar por ser bern sabido quo a maior parte dos lavradores d'esta parte d" Afriea tropical até agora ainda nuo sc lembraram de cstrumar ou adubar as respectivas ten'as, nom mesmQ dcdicar-lhes a llttcnç!io e o zêlo com quo se alcançam tamanhos resultados cm paizes menQS favorecidos pelo clima.

Finalmcnte nao posso deixar de" acrescent.:'Lr quo todas aquellas castIIS de algodoeiro que nos EstadoB UnidoB, na Argelia, China c paizes analogos ex.igem lUll tmromento coma plantas annuaes, cm Angola logo DO primeiro anno se tOl"llam arbustiwas, dispensando assim a annual repeti- çao do grangcio das torras e as repelidas semeadw'aB, ope- l'açöes que, como é notol'io, absorvem consideravcis capitacs.

Ponderando portanto todas 8S circumstancias acima npon- tadas parece-me ficar evidente que 0 Bolo e 0 clima nngo- lense sao eminentemente favoraveis II produCÇll0 gOBsypin", c póde asseverar-se, sem cxageraçüo, que todn. a vasta. pro- vinein do Angola quasi quo foi faduda pel" P,'ovidellcia para se transfOl'mar n'um illimitado cam po d'esta valiosa cultUl'a;

sim I os immensos evariados terl'cnos d'este fecunrus imo paiz, junta com a reconhecida aptidilo dos seus robustos indigcll118 para trabalhos agricolas, comprovada com summa cvidencia no Brazil c nos Estados Unidos, etc., 0 nao rue- nos os graves rustur'bios que actualmente estào f!,offrcndo os paizcs mai:s consideravelmente productorcs do algodao, offereccm agora a quaesquer cmprezas agricolas cm An- gola, 0 partieularmento á cultnra do algodao, a mais op- pOl'hm3. occasHio e as mais favoraveis condi~öcs para dentl'O cm pouco tempo poder alcançar bcm proveitoso. reslll- tados,

lil Pelo que respcita á maior ou menor salubridade

(11)

10

<l'e.ta provincia, nlto posso deixar de observar que as idéas o opiniöes gemlmente espalhndas sobre a insalubridndo do territorio angolense MO pela. maior parte muito exagera- das j pois nbstrahindo de algulls pontos isolados, onde cir- cumstaneias particulares conCQrrem a constitui-Ios menos saudaveis, póde-se affirmnr que 0 clima de Angola em geraJ de eerto näo é maïs inconveniente a constituiçêies europens do quo 0 de todos os outros paizes situados na zonn tropical j pelo contrario seria faeil demonstrar que 0 clima d'este territorio é consideravelmente superior ao de mui tas regi5es da mesllla zona, as quaes, apesar d'isso, näo deixam de ser habitadas por europeUSj basta nqui apontar as colonia. de Senegal e Gambia, de Serm Leoa e Gabilo, de Java, Borneo e Cuba, do. penjnsula indiea, das Guianas, franceza e inglezn, e do norte do decantndo Brazi!. 0 quo porém á provincia do Angola dá uma superioridade incontestavel sobre todos os paizes tropicaes da Asin, Africa e Amcrica, é a circumstancia. de possuil' cm lIossamcdcs urn pouto vasto, seguro e sadio, oude OB europeus encontram 0 apra- zivol clima 0 a salubridade do moio dia da Europa, oonde

08 recemchcgados acham todas as condiçOes favoraveis para aua aclimaçao, e os doentes ou valetudinarios de outros districtos um asylo consolador de facilimo accesso para seu prompto restabelecimento.

Mas se Mossamedes com seu sortao, cujas cncantadoras planums se estendem para leste quasi até ao eoraç;!o da Africa austral, é abonçoado do um clima eminentcmente favoravcl .t constituiçäo da raça branca, 0 d'est'arle des-

tinado para UDl dia se elevar " principaJ emporio do com- mcrcio e da. colonisaçao da Africa occidental, comtudo nao faltam cm Angola varios outros sitios e mesmo dilitrictos inteiros, 08 quaes, afóra grandes convenjencias mercan- tis, ofl'ereccm tambem urn clirna muito soffl'ivcl; pois é um facto, comprovado por Jlumel'osas c::\"]>Criencias, que os europeus podem vivm' com bas tante commodidade cm algulls pontos dll. costa c cm muitos do interior, nma vez quo lbes nito faltem certos commodos da vida e que se abstcnham dos costumados exccssos in Venere et Bacho ~

os quaes, mórmente aeompanhac1os de delictos gastrono- micos em toda a pnrlc do mundo, e com mais rapidez cm

(12)

climas tropicaes, duo resultados rUDestos; resultados po- rém que antos devem scr cODsiderados como consequen- eins inevitaveis de uma vida desordenada, do que inter- pretados como indicios da insalubridade do clima. De mais a mais costuma·sc attribuu: erroneamente á influencia do clima africano a ratalidade de todos aqueUes individuos que vao aportar áquellas praiM, já bast.nte enfraquecid08 por molesthts untel'iores, ou excessos praticados antes dll.

sua chegada a Angola; e esta chegada mesma, que devia calcular-se cm confol'midade com a epocha maïs favoravel, é pelo contrario quasi scmpre effeituada nas estaçoes mais improprias pnra sc aclimatar na zona tropical.

Em addiçao ao que

nca

exposto, convem tambem iDdi- ear, que a condiçao sanita,;a, tanto da capital de Angola, como de varios outros pontos do. cOBta e do interior dll. pro- vinein, tem mclhorado consideravclmcnte n'estes ultimos annos, c ha de scm duvida me1Jlorar-se cada vez maïs com o augmcnto dos commodos dll. vida domcstica e social, mór- mente procedentes das communicaçOcs mais rapidas com a.

metropole e outros pontos da Europa e America, e nao me- nos eom a perfeiçao successiva na construcçäo das habita- çöes, com a abertura de caminhos eestradasJ abastecimento de Rl}ua, com a introdueçäo e observancia de varias provi- dencIns hygienieas c policiaes, e mui pnrticularmcnto com a extensao e 0 progresso da cu!tura das terras e da arbo- risaçao da regiäo litora!.

E como 0 governo portuguez, solicito de sc effeituarom quanto antes estes melhoramentos, acaba de destinar para este firn urn fundo auxiliar em addiçiïo ao orçamento geral d" provincia, ha toda" probabilidade que, dentro em brevo tempo, 0 paiz gosará dos benclicos resultantes das provi- dencins aeima indicadas .

. IV Cumpre-me aiuda responder ao quesito de v. 8.& cm relaçäo á acqtLÎsiçïlo e ao cnsto dos competentes operarios para emprezas agricolas em Angola. A este respeito julgo poder Mseverar-Ihe quo nITo é sómente com escravos e li- bertos que os lavmdorcs de a1godào, de caf6 c de outros generos coloniaes, no futuro, poderäo con tal' n'esta provin- cia, ncbando-se 0 governo portuguez firmemente resolvido a exigi .. , 0 persuadido de conseguir 0 trabalho dc todos os

(13)

indigenns, mcsmQ livres, mediante uma justa retribuiçäo;

e d .. cfficaci" dos meios quo hao do ser cmpregados para alcançnr esto fim näo ha quo duvidar, pois wun adminis- traç!ïo encl'gica, justa. e circumspectn., cm harmonia com os po.tulndos d" vida socia! e das leis humanitarias, ha de sem duvida modificar successivamente a disposiçilo preguiçosa d'aquelles indigenas, convencendo-os finalmente, que 0 de- ver maïs sagrado, e ao mesmo tempo mais nobl'c, do ho- mem é 0 trabalho. E a anirnadora, inBuencia da immediata l'ctribniçäo de sCl'viços prestados, cm uniäo com 0 bern estar dos quo actuahnente entre eU es já se dedicalll á agdcultura, näo dcixará de estiruulru' e convidar, pouco a pouco, até os mais resistentes, mórmcnte quando as medidas n'este l'cspcito tomadas forcm executadas com aquelle rigor p"-

tCl110 c com aquella infiexivel pcrscverança, sem a qual ncnhumll. b'ansformaçäo social ou politica, nem mesmo en- tre os povos mais cultos, se tOl'na. c...xequivel. E para corro- bor"r por urn facto, que medidns adminisb'ativas, quando condllzidas cOJU acerto, mesmo no SCl'tUo de Angola, nno deix8.m de produzir 0 desejado effei t~, convem nqui narrar a v. S.A 0 que aconteceu nos all nos dc 1854 e 1855 no dis- tricto de Golungo Alto, em respeito aos operarios requisi- tados para a lavra do café. Achava·me cu cntilo em S"nge, povoaçûo principal e residenci" do chefe do mencionado distl'icto, e tendo 0 govermldor geral da provincia recom- ruendado is respectivas auctoridades, de promover quaoto possivel a plantaçao de café, "presentaram·se muitos agri.

cultores com bast.~nte desejo de encctar plantaçöes d'e)]e,

DO caso de Ihes serem fornccidos os necessario8 operarios.

A difficuldade de satisfazcr a estas rcquisiçöes augmenta- va-sc aindn. pelas grandes distancins cm quo sc nchavam as terras dos lavradorcs, das povoaçocs mais popu]osas dos indigenas j mas apcsar de tudo isso pOde 0 zeloso c in- f!truic1o cbefc, 0 sr. tcncnte Antonio do Canto e Castro, re- mediar esta falm de braços den tm em poucc tempo, per·

suadindo os regulos e mucotas (ccnse]),ciro.) d" populaçao indigcna da reciproca conveniencia. e utilidade d'csta cul- tum, c por este modo conseguil' quo todos 08 mezes alguns centenares de opel'arios indigenM se nprcsentassern para. se- rem distribuidos entro os layradores do cafó, com a ccndi·

(14)

( ,

13

çào de sustento durantc 0 periodo do trabalho, e de urna adequada retribuiçào mensal da parte dos propl'ietarios das respeetivas plantaçöes.

Aeho a meuçào d'este facto, que de eCl·to näo é sem si- gnificaç.äo inst.l'llctiva para 0 futuro das empl'czas agricolas cm Angola, tanto mais opportlma n'este logar, quanto tudo que aeabo de rclatar foi igualmente preseneiado por urn dos maia illusb'cs viajantes cm Africa austral, 0 insigne mis- sionario David Livingstone, com quem, na cpocha aciilla indi- cada, tive a particular satisfaçào de habitar em Sange dll- runte algumas semanas debaixo do rnesmo teeto hospitaleiro.

Satisfazendo agora ás pcrguntas que v. s.· me dirige, relativas ao que atol esse tempo cm Angola se ach. ... em uso áccrca da compra e do sustento dos escraVQS C libertos, em- prcgados nos trabalhos das terras, tenbo que notar que os preços de cada urn variam cnlre 25 e 456000 rrus (3

l t.

a 6

I /i

libras esterlinas)', couforme a idade, robustez e a maior ou menor pratica quo tivcr dos respectivos tL'aba- lbos, e nlo menos em relaçào ,\ distancia da costa em que as compras aao effeituadas; os quo se compram Ik'lra servi- rem na condiçlïo de libertos, obrigados ao serviço durante dez annos, poderao ser obtidos por preços consideravel- mente inferiorcs. Quanto ás despezas com 0 sustento e ves- tuario d'elles, póde-se assegw·ar que ellas nilo silo de grande importancia, pois com 120 réis a 130 réis diarios (dez, ouze shellings por mez) susten ta-se e veste-se Wil preto em An- gola; e coma cm todos os estabelecimentos agricolas de eerto vulto se eoslumn tambem cultivar a maior parte dos mantimcntos mais importantes, coma mnndioca, milho e feijiio, torna-se por isso 0 sustento dos operarios destinados

R culturas espeeiaes, runda menos dispendioso.

Considerando portanto a inesgotavel fecundidade do solo, e a grande fneilidade do acquisiç~o de terrenos em Angola, onde 0 govorno portuguez cstá dccidido a concede-los com as maiorcs vantagens possiveis; e pondernndo igualmente a bern couhecida barateza do custo e sustento dos libertos e operarios livres n'nquella provincia, parcce realmente in-

J Moeda fra.ca, ao cambio de 61 pal' cento, scndo 0 va,lor da Ii- bra esterliua 7'000 l'éia.

(15)

cxplicavel, como os capitalistas quc<lesejam cmpregar scuo fundos cm Clilturas coloniaes, podem, wn momcnto só, he- sitar na escolha do paiz para suas emprezas agl'icolas, quando Angola para ioso Ihes offerece tod.~s as coudiçöes vantajosas, e sendo de maïs a mais notorio que a acquisi- çäo de terrenos cm onb'os pai?~s coloniaes, C01110 por exem- plo no Brazil, se torna eonoidernvelmente mais difficultosa e mais oner05a, absorvendo ahi só 0 custo dos indispensa- veis operarios aÛ'icanos sommas avultadas, quasi fabulosas, e alem d'isso arriscadissimas.

V Em referenci" á· fundaçao do feitori ... na costa do Aogol", ou cm pontos interiores de f"cU accesso, com 0 firn de eomprar qualquer porçilo do algodao quo apparccer nos mercados, jA me pronunciei mui affirmativamente na su- pracitada arta que dirigi ao illustre commissario inglez da commissäo mixta em Loanda, propondo entäo 0 estabele- cirucnto de feitorias cm pootos convenientes, como urn dos meios mais poderosos e efficnzes para desa6ar e promoYcl'

" cultura de algodäo entre os indigenas, e pouco tempo dc- pois a conveniencia d'esm minha indicaçäo foi confirmada por factos; pois apenas constou nos sertoes do Ambaca, Cambambe, Cazengo 0 outros, que alguns ncgocinntes em Loanda, e nomea.damente 0 Sf. FranL.'Îsco Barbosa Rodri- . gues, sc achavam dispostos a comp!"ar 0 aJgodào cultivado

no sel,täo, os indigenas principiaram immediatamente a af- Buir no mercado de Loanda com seus aJgodiles, e em breve tempo alguns milhei!"os de a!"robas d'este gene!"o fora", com- prados, só proeedentes do euJtivo dos indigenns. Parece-me que, para. um primeiro ensaio, este rcsultado nuo dcixa de ser satisfactorio. Mas alem de Loanda, Ambriz, BcuguelJa e Mossamedes, que como port08 principaes se recommendam com prefercncia para n'clles estabelecer feitorias, ha varios outros pontos na costa. ou proximos d'ella, onde se poderiam fumlar fcitorias filiaes com evidente vantagem, como por exemplo em Libongo, na bam, do Bengo, cm Calumbo junto ao rio Cuallza, c ao sul d'cstc rio em Novo Rcdondo, Quicombo, Egito, Luzira, etc., localidades es tas situadas em visinhança de valies suseeptiveis de grande producçilo de algodào. Estas feitorias, acbando·se em contacto quoti- diano com os cultivadores, haviam ta~bell1 eontribuir effi-

(16)

cazmente para a introducçao de sementes das variedade ..

mai. valiosa. de algodäo, e das machlnas mai. aperfeiçoa- das para 0 grangeio e descaroçamento d'elle, porque os be- nefico. resultados d'este. esforços iam todo. convergir em pl'Oveito das mesmns feitorias.

VI Conclwndo estas minbas observaçlies, nao devo dei- xar de asseverar a v. s.a que 0 governo portuguez se mos- tra nnimado da melhor vontade de facilitar aos que se des- tinarem ao cultivo de generos coloniaes em Angola, e prin- ei palmen te ao do algodäo, a prompta aequisiçao dos respe- ctivos terrenos, mediante concessöes muito vantajosas, e de garantir aos lavradore. de algodilo nilo romente a impor- taçao, livre de quucsquer direitos, de sementes, fenamentn.

e machiDas concernentes a este grangeio, mus tamhem a livre exportnçäo de algodäo ahl produzido durante 0 de- curso dos primeiros cinco ou seis annos.

VU Parece-me mnd. conveniente cbamllr a altençlio de v. s.a sobre a grande faeilidade de communicaçlies actual- mente estabeleeida. entre vario. ponto. de Inglaterra, Franç." e Portugal, e os porto. principaes d. provincia de Angola, mediante os vapore. d. uniäo mercantil de Lis- boa, os quaes nas viagens mensaes quo fazem tiR C08taS de Angola, communicam na ilha de S. Vicente de Cabo Verde com os vapores inglezes e francczes da carreira brazileira ede Goréc.

Vill Quanto ao tempo mais opportuno de aportar lis praias de Angola, dovo informar a v. S.A, quo os mozes de maio até fins de agosto silo os mais proprios para estas via- gens, porque a estaçäo sccon, que reina durante esOOs me- zes, é a mais adequada para os europeus recemchegados se aclimatarem ,I zona tropieal do hemispherio austral.

Havendo assim respondido conforme mei hor pude, aas quesitos que v. s.a, em nome do seu nobre amigo em Li- verpool, me dil'igiu, resta-me s6 pedi!' bcncvola desculpa, oe nao conseglli .. tisfazer plenamente aos desejos d'aquelle illustre cavalheiro, confcssando-me comtudo muito penho- rado pel" eonfiança com que me bonrou, e prompto a res- ponder, com a mesma franqueza e sinceridade, a quacsquer outr08 quesitos quc mo f~rem clirigidos sobre este momen- toso a-ssumpto, cu ja summa importancia ninguem desco-

(17)

\

16

nhecel'á, ponderando que 0 porvir de muitos milhöes de babi tantes dos paizes mais industriosos da Europa se aeba intimamente ligado, senao totalmcnte subol'clinado, Ó. re80- luçäo mais ou menos ace.rtada d'este pI"oblema agricola.

Sou com protestos da mais aha estima e cODsideraçäo- De v. s." mui obediente servo.=Dr. Frederico Welwitsch, encalTegado du e"l'loraçào phytographica du provineia de Angola.-Lisboa, 20 de _gosto de 1861.-Ill.mo sr. W.

I. Howorth.

(18)

Referenties

GERELATEERDE DOCUMENTEN

ME.. ue supermacht, de neutrale macht en de civiele macht. Nederland kiest voor het civiele Europa. Dit komt overeen met de Atlantische visie, die West- Europa uitdrukkelijk als

De leurs côtés, les Etats, notamment celui du Niger, et certains groupes armés touaregs, en particulier ceux qui rêvent de transformer la province malienne de Kidal en

Não espanta que o tabaco tenha prosperado nos distritos interiores de Tete e Niassa, com uma longa história de serem reservas de mão ‑de ‑obra coloniais e com acesso a mão

1 Locatie nutstracé In een eerder plan was een nutstracé aangegeven in het bestaande voetpad gelegen langs de Mericilaan (de laan tussen de bomen).. In het huidige plan is dit

Copyright and moral rights for the publications made accessible in the public portal are retained by the authors and/or other copyright owners and it is a condition of

Copyright and moral rights for the publications made accessible in the public portal are retained by the authors and/or other copyright owners and it is a condition of

In light of the expectations that people who are concerned about the theme of diversity are particularly motivated to fill out the survey, and that people who are (seen

8 Tipler reconhece que a opacidade e a perda de coerência complicam a questâo, mas mantém que hâ uma informaçâo suficiente do passado que permanece ontologica- mente presente